Superpoderes: Seres humanos poderão ganhar visão
noturna
Redação
do Site Inovação Tecnológica - 05/09/2019
Não é mais ficção
pensar em dar aos seres humanos uma capacidade de visão noturna sem o uso de
aparelhos. [Imagem: ACS/Cell]
Superpoderes reais
Heróis com superpoderes - com força extraordinária, capazes de voar e
com visão de raios X - voltaram a estar na moda.
Mas a ideia de pelo menos um desses superpoderes não é mais mera
fantasia.
Uma equipe da Universidade de Ciência e Tecnologia da China usou
nanopartículas para conferir um superpoder real a camundongos comuns: a
capacidade de ver luz infravermelha.
A luz infravermelha corresponde às emissões de calor, permitindo que
câmeras de visão noturna enxerguem na total ausência de luz visível.
Segundo Yuqian Ma e seus colegas, não é mais ficção pensar em usar
versões aprimoradas dessas nanopartículas para dar aos seres humanos uma
capacidade de visão noturna sem o uso de aparelhos.
"Quando olhamos para o Universo, vemos apenas luz visível,"
ilustrou o professor Gang Han, coordenador da pesquisa. "Mas se tivéssemos
visão infravermelha, poderíamos ver o Universo de uma maneira totalmente nova.
Poderíamos fazer astronomia infravermelha a olho nu ou ter visão noturna sem um
volumoso equipamento".
Os complexos aparelhos de visão noturna poderão ser substituídos por
nanopartículas nos olhos, que convertem o infravermelho em verde. [Imagem: ACS/Cell]
Nanopartículas nos
olhos
Os olhos dos humanos e de outros mamíferos conseguem detectar luz entre
os comprimentos de onda de 400 e 750 nanômetros (nm). A luz do infravermelho
próximo (NIR), por sua vez, tem comprimentos de onda mais longos - de 750 nm a
1,4 micrômetro.
As câmeras de imagens térmicas ajudam as pessoas a enxergar no escuro
detectando a radiação NIR emitida por organismos ou objetos de variadas
temperaturas, mas esses dispositivos geralmente são volumosos e inconvenientes.
A equipe deu aos camundongos o poder de visão NIR injetando um tipo
especial de nanomaterial, chamado nanopartículas de conversão ascendente
(UCNPs), nos olhos dos animais. Essas nanopartículas, que contêm os elementos
de terras raras érbio e itérbio, convertem fótons de baixa energia da luz
infravermelha em luz verde, de maior energia, que os olhos dos mamíferos podem
ver.
Para testar o superpoder, os pesquisadores treinaram os camundongos para
nadar em direção à luz visível na forma de um triângulo, que marcava uma rota
de fuga. Um círculo igualmente iluminado marcava uma falsa saída, sem plataforma.
Em seguida, eles substituíram a luz visível pela luz infravermelha. "Os
camundongos com a injeção de partículas podiam ver o triângulo claramente e
nadar para ele todas as vezes, mas os camundongos sem a injeção não podiam ver
ou diferenciar as duas formas," contou Han.
Diagrama
descrevendo como foi realizado o experimento com os animais capazes de ver o
calor.
[Imagem: Yuqian Ma et al. - 10.1016/j.cell.2019.01.038]
Seres humanos com
visão noturna
Embora as nanopartículas tenham persistido nos olhos dos animais por
pelo menos 10 semanas e não tenham causado efeitos colaterais visíveis, o
professor Han afirma que será necessário melhorar a segurança e a sensibilidade
dos nanomateriais antes de pensar em experimentá-los em humanos. Eliminar o uso
dis elementos de terras raras, trocando-os por compostos orgânicos, parece ser
uma rota promissora.
"As UCNPs [usadas neste experimento] são inorgânicas e aí existem
algumas desvantagens," explicou Han. "A biocompatibilidade não é
completamente clara e precisamos melhorar o brilho das nanopartículas para uso
humano. Mostramos que podemos criar UCNPs orgânicas com muito brilho em comparação
com os inorgânicos."
As nanopartículas orgânicas podem emitir luz verde ou azul. Além de
terem melhores propriedades, permitindo ver o calor em cores, os corantes
orgânicos também podem ter menos obstáculos regulatórios.
Poderes de super-heróis à parte, a tecnologia também pode ter
importantes aplicações médicas, como o tratamento de doenças oculares. "Na
verdade, estamos vendo como usar a luz NIR para liberar uma droga das UNCPs
especificamente nos fotorreceptores," contou Han.
Bibliografia:
Artigo: Mammalian Near-Infrared Image Vision through Injectable and Self-Powered Retinal Nanoantennae
Autores: Yuqian Ma, Jin Bao, Yuanwei Zhang, Zhanjun Li, Xiangyu Zhou, Changlin Wan, Ling Huang, Yang Zhao, Gang Han, Tian Xue
Revista: Cell
Vol.: 177, Issue 2, P243-255.e15
DOI: 10.1016/j.cell.2019.01.038
Artigo: Mammalian Near-Infrared Image Vision through Injectable and Self-Powered Retinal Nanoantennae
Autores: Yuqian Ma, Jin Bao, Yuanwei Zhang, Zhanjun Li, Xiangyu Zhou, Changlin Wan, Ling Huang, Yang Zhao, Gang Han, Tian Xue
Revista: Cell
Vol.: 177, Issue 2, P243-255.e15
DOI: 10.1016/j.cell.2019.01.038
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