Primeiro DNA sintético gerado por computador está
pronto
Redação do Site Inovação Tecnológica -
30/04/2019
Neste pequeno frasco está o primeiro DNA sintético, totalmente projetado
por computador, e depois fabricado em laboratório.[Imagem: ETH
Zurich/Jonathan Venetz]
Genoma sintético
Cientistas anunciaram a
criação do primeiro genoma de um organismo vivo totalmente projetado por
computador.
Para isso, eles usaram um novo
método que simplifica muito a produção de grandes moléculas de DNA contendo
centenas de genes.
Este
primeiro organismo fruto da biologia
sintética foi batizado de Caulobacter ethensis-2.0.
O "Caulobacter" foi
tirado da bactéria que serviu de base para o estudo, enquanto o
"ethensis" é uma homenagem ao instituto ETH, de Zurique, na Suíça,
onde a pesquisa foi realizada.
Embora
os pesquisadores tenham produzido fisicamente o genoma da C. ethensis-2.0
na forma de uma molécula de DNA muito grande, eles ainda não criaram um
organismo real cujo funcionamento seja gerido por esse genoma, ressaltando que
isso irá exigir discussões éticas amplas envolvendo toda a sociedade, e não
apenas a comunidade científica.
Organismo vivo criado pelo
homem
O
C. ethensis-2.0 foi baseado no genoma de uma bactéria de água doce bem
estudada e inofensiva, a Caulobacter crescentus. Ela não causa nenhuma
doença e serve como um organismo modelo em laboratórios. Seu genoma contém
4.000 genes, sendo que apenas cerca de 680 deles parecem ser cruciais para a
sobrevivência das espécies no laboratório - bactérias com esse genoma mínimo
são viáveis em condições de laboratório.
Os
irmãos Beat e Matthias Christen lideraram uma equipe que tomou esse genoma
mínimo da C. crescentus como ponto de partida e se propuseram a
sintetizar quimicamente o genoma a partir do zero, como um cromossomo na forma
de um anel contínuo.
Em um processo lento, passo a
passo, eles sintetizaram 236 segmentos do genoma, que foram então reunidos.
Foi necessário simplificar
radicalmente a sequência do genoma sem modificar a informação genética real, no
nível das proteínas. Essa simplificação é possível porque a biologia tem
redundâncias internas para armazenar informações genéticas. O algoritmo
desenvolvido pelos cientistas suíços otimiza essa redundância.
O genoma sintético foi largamente simplificado em relação ao da bactéria
que o inspirou. [Imagem: Venetz et al. - 10.1073/pnas.1818259116]
Limites do conhecimento
O genoma sintético resultante
é interessante do ponto de vista biológico. "Nosso método é um teste
decisivo para ver se nós biólogos entendemos corretamente a genética, e isso
nos permite destacar possíveis lacunas em nosso conhecimento," disse Beat.
Naturalmente, o genoma
artificial somente pode conter informações que os cientistas realmente entendem.
Qualquer informação adicional "escondida" na sequência do DNA - ainda
não compreendida pelos cientistas - é perdida no processo de criação do novo
código.
Para provar que esse
conhecimento é amplo o suficiente, será necessário criar o organismo real em
laboratório. "Acreditamos que em breve também será possível produzir
células bacterianas funcionais com esse genoma," prevê Beat.
Discussão com a sociedade
As
possibilidades aventadas para a criação de organismos sintéticos incluem a
criação de microrganismos artificiais para a produção de moléculas ou vitaminas
complexas farmaceuticamente ativas. Em tese, a tecnologia poderia funcionar
para todos os microrganismos, não apenas para a Caulobacter. Outra
possibilidade seria a produção de vacinas de DNA.
Mas há outros problemas além
da compreensão do genoma e da capacidade de montar as moléculas adequadamente.
"Por mais promissores que
sejam os resultados da pesquisa e suas possíveis aplicações, eles exigem uma
profunda discussão na sociedade sobre os propósitos para os quais essa
tecnologia pode ser usada e, ao mesmo tempo, sobre como os abusos podem ser
evitados," reconheceu Beat.
Ainda não está claro quando a
primeira bactéria com um genoma artificial será produzida, mas é evidente que
ela pode e será desenvolvida. "Devemos usar o tempo que temos para
discussões intensivas entre cientistas e também na sociedade como um todo.
Estamos prontos para contribuir com essa discussão, com todo o know-how que
possuímos," finalizou o biólogo.
Bibliografia:
Chemical synthesis rewriting of a bacterial genome to achieve design flexibility and biological functionality
Jonathan E. Venetz, Luca Del Medico, Alexander Wölfle, Philipp Schächle, Yves Bucher, Donat Appert, Flavia Tschan, Carlos E. Flores-Tinoco, Mariëlle van Kooten, Rym Guennoun, Samuel Deutsch, Matthias Christen, Beat Christen
Proceedings of the National Academy of Sciences
DOI: 10.1073/pnas.1818259116
Chemical synthesis rewriting of a bacterial genome to achieve design flexibility and biological functionality
Jonathan E. Venetz, Luca Del Medico, Alexander Wölfle, Philipp Schächle, Yves Bucher, Donat Appert, Flavia Tschan, Carlos E. Flores-Tinoco, Mariëlle van Kooten, Rym Guennoun, Samuel Deutsch, Matthias Christen, Beat Christen
Proceedings of the National Academy of Sciences
DOI: 10.1073/pnas.1818259116
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