Físicos colocam partículas no hoje e no amanhã simultaneamente
Tudo acontece dentro de um cristal de diamante a temperatura ambiente. |
Superposição temporal
Uma das mais impressionantes
criações deste século, os cristais
do tempo são estruturas cristalinas que apresentam uma periodicidade
não no espaço, como nos cristais comuns, mas no tempo.
Perigosamente próximos de uma
máquina de movimento perpétuo, segundo seu descobridor, o físico Frank Wilczek,
esses cristais espaço-temporais poderão persistir mesmo em seu nível mais baixo
de energia, quebrando as simetrias espacial e temporal e, eventualmente, sobrevivendo ao fim do Universo.
Agora, físicos demonstraram
experimentalmente um fenômeno igualmente desafiador para o nosso senso comum:
Uma partícula que existe simultaneamente em dois tempos diferentes.
É um tipo de superposição
quântica, só que ocorrendo não no espaço - uma partícula que contém dois
estados, por exemplo -, mas no tempo.
Em termos simples, é uma
partícula que pode existir hoje e amanhã, ou ontem e hoje, ou ontem e amanhã -
simultaneamente. Por ora, contudo, o experimento que demonstrou essa nova
versão das chamadas correlações
quânticas ocorre em "hojes" e "amanhãs" separados
no tempo por períodos na casa dos picossegundos (4 x 10-12 segundo).
As coisas segundo a física
clássica
A grande dificuldade em lidar com
a superposição é que ela é destruída se qualquer tipo de informação sobre o
local ou o tempo do evento vaza para o ambiente - um elétron ou um fóton
desavisados passando por ali e entrando em contato com o experimento, por
exemplo.
Santiago Velez e seus colegas da
Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, obtiveram evidências
definitivas de uma superposição quântica temporal medindo a classe mais forte
de correlações quânticas entre fótons (quant de luz) interagindo com fônons
(quanta de vibração).
Os pesquisadores usaram um pulso
de laser muito curto para disparar um padrão específico de vibração dentro de
um cristal de diamante. Cada par de átomos vizinhos oscilava como duas massas
ligadas por uma mola, e essa oscilação era síncrona em toda a região iluminada.
Para conservar energia durante esse processo, a oscilação emite um fóton de uma
nova cor, deslocada para o vermelho do espectro.
As mesmas coisas segundo a física
quântica
No entanto, essa descrição
clássica é inconsistente com os experimentos porque tanto a luz quanto a
vibração devem ser descritas como partículas, ou quanta: A energia da luz é quantizada
em fótons, enquanto a energia vibracional é quantizada em fônons (do grego
antigo "foto = luz" e "fono = som").
Dessa forma, o processo descrito
acima deveria ser visto como a fissão de um fóton proveniente do laser, criando
um par de fóton e fônon - semelhante à fissão nuclear de um átomo dando origem
a duas partes menores.
E essa não é a única deficiência
da física clássica: Na mecânica quântica, as partículas podem existir em um
estado de superposição, como o famoso gato
de Schrodinger, que fica vivo e morto ao mesmo tempo.
Mais ainda, duas partículas podem
ficar entrelaçadas (ou emaranhadas), perdendo sua individualidade: Tudo o que
acontecer a uma afetará imediatamente a outra.
Superposição quântica no tempo
Velez e seus colegas usaram
exatamente essa possibilidade, fazendo com que o fóton (luz) e o fônon
(vibração) produzidos no cristal de diamante ficassem entrelaçados. Para fazer
isso, eles projetaram um experimento no qual o par fóton-fônon pode ser criado
em dois instantes diferentes. Em termos da física clássica, isso resultaria em
uma situação em que o par é criado no momento t1 com 50% de probabilidade, ou
em um momento posterior t2 com 50% de probabilidade.
Mas aí vem o "truque"
que os pesquisadores usaram para gerar um estado entrelaçado. Com um arranjo
preciso do experimento, eles garantiram que nem mesmo o menor traço do tempo de
criação do par luz-vibração (t1 versus t2) fosse deixado no Universo - em
outras palavras, eles apagaram todas as informações sobre t1 e t2.
A mecânica quântica prevê então
que o par fônon-fóton se torna emaranhado e existe em uma superposição do tempo
t1 e do tempo t2. Isto, que até agora era unicamente uma previsão teórica, foi
espetacularmente confirmado pelas medições, que produziram resultados
incompatíveis com a teoria probabilística clássica.
"Nosso estudo demonstra que
mesmo um material comum [um diamante] em condições ambientais pode sustentar as
delicadas propriedades quânticas necessárias para as tecnologias quânticas.
Porém, há um preço a pagar: As correlações quânticas sustentadas por vibrações
atômicas no cristal são perdidas após apenas 4 picossegundos - ou seja,
0,000000000004 de um segundo! Esta escala de tempo curta, no entanto, é também
uma oportunidade para desenvolver tecnologias quânticas ultrarrápidas. Mas
muita pesquisa ainda está por ser feita para transformar nosso experimento em
um dispositivo útil - um trabalho para futuros engenheiros quânticos,"
disse o professor Christophe Galland.
Noticia: Inovação Tecnologica
Nenhum comentário:
Postar um comentário