Cientistas
chineses criam "sol artificial" na Terra
REUTERS
Poluição em Pequim na China, em 01 de dezembro de 2015:
novas fontes de energia são fundamentais no país
Adrià
Calatayud, da EFE
Pequim -- O experimento foi breve, não chegou nem a
dois minutos, mas os 102 segundos que durou foram suficientes para transformar
uma equipe de cientistas chineses nos autores do "Sol
artificial" mais longo que já existiu na Terra.
Apesar de o "astro"
criado ter sido efêmero, representou um grande avanço na longa corrida para
tornar realidade um dos maiores desafios científicos do século XXI: imitar as
estrelas e conseguir que a fusão nuclear seja uma fonte de energia viável.
O Instituto de Ciência Física da
cidade chinesa de Hefei, no leste do país, realizou no dia 28 de janeiro esse
experimento, embora a Academia de Ciências da China tenha demorado vários dias
para divulgar a façanha através de um comunicado.
Utilizando o reator de fusão
termonuclear EAST (sigla em inglês de Tokamak Superconductor Experimental
Advanced), os pesquisadores elevaram a temperatura do hidrogênio para 50
milhões de graus celsius, triplicando a do núcleo do Sol.
Após esse aumento térmico, o
hidrogênio passou de gás a plasma, o quarto estado da matéria (junto a sólido,
líquido e gasoso), no qual as partículas se movimentam a tal velocidade e se
chocam com tanta força que os elétrons se separam dos núcleos dos átomos
formando um conjunto ionizado.
A novidade do experimento chinês,
no entanto, não está nessa alta temperatura, mas no tempo que conseguiram
mantê-la, já que em dezembro uma equipe do Instituto Max Planck da Alemanha
conseguir atingir 80 milhões de graus em um teste similar.
Enquanto os cientistas alemães, e
antes deles outros europeus, japoneses e americanos, consideraram um sucesso
chegar ao pico térmico em uma fração de segundo, os chineses o fizeram durante
por um minuto e 42 segundos.
Ao controlá-lo por tanto tempo
demonstra uma evolução técnica que os aproxima do que a maioria dos
especialistas veem ainda muito longe: a chegada de reatores nucleares de fusão
capazes de imitar o processo que acontece no Sol de forma natural.
A fusão é uma reação química que
consiste na união de dois átomos para formar um maior liberando uma enorme
quantidade de energia no processo, mais inclusive que na fissão que se realiza
nas usinas nucleares, onde se quebram átomos grandes em partículas menores.
Conseguir uma fusão nuclear
estável e controlada é, por seu potencial como fonte de energia limpa e obtida
de um recurso quase inesgotável, uma das grandes ambições da comunidade
científica internacional.
Estados Unidos, União Europeia,
China, Rússia, Japão, Índia e Coreia do Sul formaram uma aliança incomum para
explorar a viabilidade da fusão de hidrogênio para a geração de energia no
projeto ITER (Reator Internacional Termonuclear Experimental), que está sendo
construído no sul da França.
O EAST chinês é uma espécie de
versão em pequena escala do ITER e os dados de seu último experimento serão
disponibilizados aos parceiros internacionais que participam desse projeto,
segundo anunciou a Academia de Ciências da China.
O maior obstáculo da fusão para
ser viável como fonte de energia, segundo os especialistas, consiste no
confinamento do plasma durante um tempo suficientemente longo em um discreto
volume e daí a importância da descoberta do Instituto de Ciência Física de
Hefei, que chegou mais longe do que ninguém nesse aspecto.
A Academia de Ciências da China
definiu seu resultado como um "marco" e reconheceu que, para consegui-lo,
foi preciso superar muitos problemas físicos e de engenharia.
"Foi conseguido através de
um aquecimento com um plasma confinado por uma supercondução magnética",
ou seja, o plasma foi retido dentro do reator graças a um sistema de potentes
ímãs, explicou à Efe Li Ge, pesquisador do Instituto de Ciência Física de
Hefei.
Mais que gerar energia, a ideia
dos cientistas chineses era se concentrar no requisito prévio: prolongar o
tempo durante o qual se pode trabalhar com o plasma a temperaturas extremas.
Seu próximo objetivo é chegar aos
100 milhões de graus e preservá-los durante 1.000 segundos (16 minutos e 40
segundos).
Antes de chegar a esse ponto, a
Academia de Ciências da China adverte que "ainda há muitos desafios
científicos e técnicos" e Li acredita que o reator termonuclear terá que
ser "atualizado".
Essas afirmações mostram que a
corrida para reproduzir um Sol na Terra pode ser que demore anos, seguramente
décadas, mas mostram que para os esforços de controlar a fusão nuclear dentro
dos reatores já faltam 102 segundos a menos.
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