Bateria revolucionária recarrega-se automaticamente
Redação
do Site Inovação Tecnológica - 13/03/2020
O projeto da
bateria é simples e dispensa os eletrólitos líquidos.
[Imagem: M. Helena Braga et al. - 10.1063/1.5132841]
Eletrólito sólido
de lítio
Um novo tipo de bateria combina a
capacitância e a resistência negativas dentro de uma mesma célula, permitindo
que a célula se carregue sem perder energia.
Isso tem implicações importantes para
o armazenamento de energia a longo prazo e para dar melhor potência de saída
para as baterias,
cuja tecnologia tem ficado virtualmente estacionada há anos.
Maria Helena Braga e seus colegas das
universidades do Porto (Portugal) e do Texas em Austin (EUA) fabricaram sua
bateria muito simples usando dois metais diferentes como eletrodos (alumínio e
cobre), e um eletrólito vítreo de lítio ou sódio entre eles.
"O eletrólito de vidro que
desenvolvemos era rico em lítio, então eu pensei que poderíamos fabricar uma
bateria na qual o eletrólito alimentasse os dois eletrodos com íons de lítio, carregando
e descarregando sem a necessidade do lítio metálico," contou Helena.
Uma das vantagens é que a dispensa do
lítio metálico e dos eletrólitos líquidos descarta a formação dos dendritos, as
pequenas "agulhas" que se formam nas baterias de lítio e fazem-nas
parar de funcionar - ou pegar fogo. Outra vantagem é que essa bateria pode
funcionar até temperaturas muito baixas (-35 ºC), o que tem sido um problema
para os carros elétricos nos países de clima mais frio.
Helena e seus colegas sugerem que
essas baterias podem ser usadas em comunicações de frequência extremamente
baixa e em dispositivos como luzes piscantes, bipes eletrônicos, osciladores
com controle de tensão, inversores, fontes de alimentação comutadas,
conversores digitais e geradores de funções e, com mais desenvolvimento e maior
capacidade, para alimentar aparelhos eletrônicos e carros elétricos.
Célula
eletroquímica
A principal inovação está em deslocar
a capacidade de armazenamento de energia da bateria para o anodo, em vez do
tradicional catodo, através do eletrólito sólido de vidro.
Isto é significativo porque unifica a
teoria por trás de todos os dispositivos de estado sólido - como baterias,
capacitores, energia fotovoltaica e transistores -, nos quais os diferentes
materiais em contato elétrico apresentam as propriedades do material combinado,
em vez das propriedades dos materiais individuais.
"Quando um dos materiais é um
isolante, ou dielétrico, tal como um eletrólito, ele altera localmente sua
composição para formar capacitores que podem armazenar energia e alinhar os
níveis de Fermi no dispositivo," explicou Helena.
O trabalho da professora Maria Helena Braga chamou
a atenção de John Goodenough, ganhador do Nobel pela
invenção das baterias de íons de lítio - ele doou US$500 mil
para o prosseguimento da pesquisa.
[Imagem: Universidade do Porto/DR]
Em uma bateria, a diferença de
potencial do circuito aberto entre os eletrodos se deve a uma necessidade
elétrica de alinhamento dos níveis de Fermi, uma medida da energia dos elétrons
mais livres em um sólido, que também é responsável pela polaridade dos
eletrodos. As reações químicas ocorrem mais tarde, e são alimentadas por essa
energia potencial elétrica armazenada nos capacitores.
Assim, a capacidade de armazenamento
de energia da célula depende não só das reações eletroquímicas, como nas
baterias convencionais, mas também do armazenamento eletrostático - como nos
capacitores -, o que dá origem a uma bateria muito segura.
"Nossas células eletroquímicas,
que em princípio são mais simples do que as baterias, têm tudo a ver com a
auto-organização, que é a substância da vida," afirmou Helena.
Esse movimento cíclico
auto-organizado pode ser interrompido ou atenuado de duas formas: Não
permitindo um salto nos níveis de Fermi ou configurando uma resistência
negativa.
"Isso pode ser obtido fazendo o
eletrodo negativo do mesmo material que os íons positivos do eletrólito,"
explicou Helena Braga. "Isso dá origem a um dispositivo que se
autorrecarrega sem autociclagem - aumentando a energia armazenada nele -, em
oposição à degradação natural do processo eletroquímico que faz com que a
energia armazenada diminua pela dissipação de calor. Isso tem aplicações em
todos os dispositivos de armazenamento de energia, como baterias e capacitores,
e pode melhorar substancialmente sua autonomia."
Bibliografia:
Artigo: Performance of a ferroelectric glass electrolyte in a self-charging electrochemical cell with negative capacitance and resistance - Autores: M. Helena Braga, J. E. Oliveira, A. J. Murchison, J. B. Goodenough
Revista: Applied Physics Reviews - Vol.: 7, 011406 - DOI: 10.1063/1.5132841
Artigo: Performance of a ferroelectric glass electrolyte in a self-charging electrochemical cell with negative capacitance and resistance - Autores: M. Helena Braga, J. E. Oliveira, A. J. Murchison, J. B. Goodenough
Revista: Applied Physics Reviews - Vol.: 7, 011406 - DOI: 10.1063/1.5132841
Nenhum comentário:
Postar um comentário